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26.6.06

O pseudo-arrastão de Carcavelos


Vale a pena ler O pseudo-arrastão de Carcavelos - Documentos publicado pelo ACIME. Para além de ajudar a compreender o que aconteceu em 10 de Junho de 2005 em Carcavelos, dá um sinal sobre o qual é muito importante reflectir: a forma acéfala como muita da imprensa portuguesa está a funcionar, e a forma como os Portugueses a aceitam acriticamente.

10.6.06

na 'psicologia do vestir'

Na Psicologia do Vestir (da Assírio e Alvim), Umberto Eco, Renato Sigurta, Marino Livolsi, Francesco Alberoni e Georgio Lomazzi escreveram sobre o vestir captando leituras semióticas do vestuário que vale a pena analisar. Para mim (que fiz os primeiros 'exercícios' de análise semiótica exactamete sobre a forma de vestir) trata-se de um complemento excelente da análise do gesto na linguagem corporal (que continuo a acompanhar sobretudo nos aspectos mais relacionados com a aprendizagem e expressão matemática).

Ao reler a Psicologia do Vestir ocorreu-me logo a imagem do cientistade bata branca (sempre de bata branca...), no laboratório, "simbolizando a pureza da ciência, a inteligência e a devoção do cientista à verdadee a diferença entre os cientistas e os mecânicos numa garagem" (Bauschpies et al, 2006, p.50). Mas essa forma de vestir, ao mesmo tempo que constitui um sinal de estatuto, de diferença, cria ao mesmo tempo uma barreira (no próprio acto de proteger a roupa 'civil'), uma separação física entre o laboratório e a vida privada, entre o trabalho e o lazer. A bata (branca ou de outra cor) é distintiva de diversas actividades em múltiplas esferas de actividade. Vale a pena reparar.

9.6.06

Matemática 'gentle and clean'

Um colega dinamarquês (Ole Skovsmose) que esteve em Lisboa ontem num Seminário sobre Competências Matemáticas questionou-me acerca da tradução mais correcta para Português da expressão 'gentle and clean' . Para além das minhas sugestões de tradução (destinadas à tradução para Português do livro Travelling Through Education: uncertainty, mathematics, responsibility da Editora Sense Publishers) ficou uma conversa bem interessante acerca do que a sobrevalorização da capacidade de regeneração e evolução económica e de bem estar causada pelo desenvolvimento da ciência (e, em particular, a matemática) e pela educação em ciência. E de verta forma muito associada a valores de neutralidade e de rigor.

"A ideologia da certeza designa uma atitude relativa à matemática. Refere-se a um respeito demasiado pelos números. Esta ideologia reclama que a matemática, mesmo quando é aplicada, dará origem a soluções correctas que são seguras por via da sua certeza matemática. A "certeza" da matemática (pura), seria de algum modo transferida para a "certeza" das soluções dos problemas. A matemática é assim entendida como a ferramenta adequada para resolver uma variedade de problemas quer do dia-a-dia quer de natureza tecnológica. Este princípio tem raízes óbvias numa corrente da filosofia da matemática mas também na matemática escolar (da sala de aula). A ideologia da certeza representa um elemento dogmático que é alimentado em geral pelo ensino da matemática, mas não (espera-se) por todas as suas formas". (Skovsmose, 2005, p.48, minha tradução).

Esta
reflexão sobre a ideologia da certeza e a realidade virtual criada com uma visão dogmática da realidade (uma 'fabricação' na terminologia de Goffman) assente em pressupostos rígidos acerca da bondade da matemática deve ser lida e discutida. E reflectir no que fazemos como educadores e professores de matemática nos dias de hoje.


7.6.06

'successful failures'


Assisti à sessão de trabalho de Sanjit Bunker Roy na Torre do Tombo na semana passada falando sobre o projecto de intervenção do Barefoot College (mais do que um projecto, eu penso que é uma forma de vida). Não consgui assistir a tudo mas o que ouvi e vi valeu o dia.

Muitas coisas ficaram a bater forte.
Uma delas foi a ideia de 'successful failure'. É simples. Tem-se um projecto, um conjunto de acções, procura-se trabalhar na sua implementação e falha-se. Mas esse 'failure' é entendido como algo muito positivo com que se aprendeu. E aprendeu muito. Para fazer melhor e não falhar outra vez. A dificuldade é assim interpretada como parte do processo, as coisas são mesmo difíceis e complexas. E a dificuldade e a falha não tem o rótulo de erro e nºão existe nada de irremediável.
Penso que só neste espírito seria possívelk encarar as tarefas e a missão do Barefoot College. Vale a pena saber mais.

6.6.06

Ciência, tecnologia e sociedade


Não é todos os dias que nos vem parar à mão um livro como este. Em Science, technology and society: a sociological approach Wenda Bauchspies, Jennifer Croissant e Sal Restivo mostram como pode ser frutuoso ter uma perspecdtiva transdisciplinar sobre os fenómenos e como há muito mais a dizer do que aquilo que cada perspectiva disciplinar reificou.
Numa fase em que os dizeres sobre a ciência e a educação se multiplicam na imprensa escrita de uma forma intoxicante, vale bem a pena o contacto com uma reflexão séria e profunda como se encontra neste livro.

21.5.06

Do lado de lá

No meio de uma visita ao Oceanário de Lisboa. E uma inundação da sensação de estar 'de fora'.
Sermos capazes de nos colocar do lado de lá é muito complexo. Sair da pele e 'olhar de fora' - perguntar 'mas o que é isto? esta coisa onde estou? estou?! o que quer dizer estou?' e de seguida sentir uma vertigem enorme como se se estivese a entrar em território vazio.
Não dá para explicar. Mas é uma sensação ambígua de prazer e de terror. É como habitar outro. Outro tudo.

Aí ele chamou-me à Terra: "Agora nós eramos peixes, eu era o tubarão e..."

14.5.06

Não esquecer de brincar

É fascinante o mundo das crianças (ou o mundo como elas o constroem). Não é só porque tudo ganha vida mas também porque é uma visa que vive com elas e que cresce e se desenvolve à sua medida. É por isso que tuod serve para brincar e que os objectos (mesmo aqueles que têm objectivamente um significado intencional) são literalmente extensões da mente das crianças.

É preciso não esquecer de como é brincar, e de brincar.

Quem se contenta...

"Era uma vez um país onde tudo era proibido.
Ora como a única coisa não proibida era o jogo do mata, os súbditos reuniam-se em certos campos que ficavam por detrás do país e aí, jogando ao mata passavam os dias.
E como as proibições vieram umas de cada vez, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que achasse mal ou não soubesse adaptar-se.
Passaram os anos. Um dia os notáveis do país viram que já não havia razão para que tudo fosse proibido e mandaram arautos avisar os súbditos de que podiam fazer o que queriam.
Os arautos foram aos locais onde costumavam reunir-se os súbditos.
- Saibam - anunciaram - que já nada é proibido.
Eles continuaram a jogar ao mata.
- Não perceberam? - insistiram os arautos. - São livres de fazerem o que quiserem.
- Muito bem - responderam os súbditos. - Nós jogamos ao mata.
Os arautos bem se afadigaram a recordar-lhes todas as ocupações boas e úteis que haviam tido no passado e poderiam ter novamente de agora em diante. Mas eles não ligavam e continuavam a jogar, um lance a seguir ao outro, sem pararem sequer para ganhar fôlego.
Vendo que as tentativas eram vãs, os arautos foram dizê-lo aos condestáveis.
- Resolve-se bem - disseram os condestáveis. - Proibimos o jogo do mata.
Foi então que o povo fez a revolução e os matou a todos.
Depois, sem perder tempo, tornou a jogar ao mata."

(Italo Calvino, Quem se contenta, em A Memória do Mundo, 1993, Editorial Teorema)

Pois é, a força da conformidade é tremeda e muito dificilmente escapável. Resta resistir.

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